No mês em que a alegria toma conta das ruas por causa do carnaval, a Agência Brasil publica a série de entrevistas Patrimônios do Carnaval, com personalidades que expressam a história, a cultura e o espírito da festa que mobiliza comunidades de diversas partes do país.
Na última entrevista da série, a história contada é de Helio Tremendani dos Santos, que presidiu cinco vezes a Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro (Aruc), a maior campeã dos carnavais de Brasília, com 31 títulos conquistados.
Começo
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Nascido em 1952, na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, Hélio é o penúltimo de oito filhos. A família veio morar em Brasília em março de 1961, quando o pai dele foi transferido pela Câmara dos Deputados.
O local de residência escolhido pelos pais foi o bairro do Gavião, como era chamado, à época, o Cruzeiro. Foi ali que a história de Hélio começou a se entrelaçar à da Aruc. O bairro era reduto de servidores públicos procedentes da antiga capital federal. Aqueles que gostavam de samba se reuniam em rodas. Dos primeiros encontros daquele grupo, saiu a ideia de fundar uma escola de samba no Distrito Federal. Em 21 de outubro de 1961, surgia a Aruc, apenas 18 meses após a inauguração de Brasília. Menino, Helio esteve lá e se lembra dessa época.
Esporte e samba
Helio, que testemunhou o nascimento e crescimento da Aruc, não teve sua primeira participação ligada ao samba. Ele começou como atleta, em várias modalidades, como basquete, futebol e handebol. Em 1974, foi convidado a criar o Departamento Esportivo da associação e, por anos, contribuiu para fortalecer as práticas de esportes como handebol, vôlei, futsal e futebol, nas categorias masculina e feminina, do juvenil ao master.
Hoje, com mais de 70 anos, admite que não joga mais nada porque os joelhos não permitem. Mas, festeja seu legado: as conquistas nacionais e internacionais do clube. Ele mostra foto de 2021, em que as atletas master (+40) da Aruc levantaram a taça da Copa do Mundo de Handebol, disputada na Croácia.
Helio revela que desfilou com a escola uma única vez no chão, no carnaval de 1976, na Ala dos Boêmios da Aruc. Admite que não é sambista e não toca nenhum instrumento. Mas, a relação com o carnaval se estreitou quando se tornou o presidente da Aruc, em 1980, sucedendo Nilton de Oliveira Sabino, que também foi puxador oficial da escola. Nilton é exaltado por Helio Tremendani como responsável por fazer da Aruc a mais tradicional escola de samba do Distrito Federal. Sucedê-lo foi encarado como um desafio, missão de muita responsabilidade.
Presidência da Aruc
Helio Tremendani foi presidente da Aruc cinco vezes. O primeiro campeonato em sua gestão foi conquistado em 1982, com o enredo Da loucura da vida à ilusão do carnaval. Em 1981, não houve desfile oficial. Naquela época, cerca de mil pessoas desfilaram, divididas em seis alas, para defender a bandeira da Aruc.
Em sua primeira gestão como presidente, nos anos 80, criou o Departamento Cultural e promoveu o projeto Concerto Canta Gavião. Pelo palco cruzeirense, passaram artistas de renome nacional como Nelson Cavaquinho, Mestre Monarco, tia Surica (primeira mulher a ocupar o posto de presidente de honra da Portela), Dona Noca, Paulinho da Viola, entre outros integrantes da Velha Guarda da Portela, a escola madrinha da Aruc desde 1962. Helio destaca que Clara Nunes esteve na sede da Aruc durante o dia para visitar. Não cantou, porque já tinha outro show na mesma data, em Brasília.
Na gestão de Helio, além dos shows de personalidades do samba-raiz partido-alto, o ex-presidente inovou e promoveu bailes de soul music, para atrair o público jovem. A ideia surgiu, após ir a um baile do mesmo gênero em Madureira, na zona norte do Rio.
Até hoje, todas as grandes celebrações ocorrem na quadra batizada de Nilton Sabino, uma homenagem ao antigo presidente. O espaço tem capacidade para 2.200 pessoas. Um show de Jamelão foi disputado palmo a palmo por 2.500 espectadores. Atualmente, a quadra é destinada também aos ensaios dos ritmistas, eventos e almoços para atrair a comunidade.
Mais que o samba
Helio se casou uma vez, se separou e tem três filhos (Heloísa, Victor e Vinícius). O sobrenome italiano Tremendani foi herdado da mãe, que morreu em 2019, aos 103 anos. O nome materno só pôde ser registrado na carteira de identidade no ano passado, quando ganhou o direito na Justiça. A inclusão é justificada pela existência de muitos homônimos de Helio dos Santos.
O ex-presidente da agremiação nunca deixou de morar no Cruzeiro. O amor à escola azul e branco dividiu espaço com outras atividades, como o serviço público na Companhia Energética de Brasília (CEB) por 18 anos, de onde saiu em 2005, em um Programa de Demissão Voluntária. Somam-se ao currículo dois mandatos como administrador regional do Cruzeiro, diretor do Departamento de Educação Física, Esporte e Recreação (Defer) do Governo do Distrito Federal, criação dos centros Olímpico e Paralímpico, produtor cultural do projeto Temporadas Populares, no governo de Cristovam Buarque (1995-1998). Nesse projeto, presenteou o público com espetáculos de personalidades do samba-raiz, como Beth Carvalho, Jamelão, Martinho da Vila, Zeca Pagodinho, João Nogueira, Nelson Sargento, Arlindo Cruz, Zé Keti e Jorge Aragão, entre outros.
Preservando memórias
Hélio não pára. Todas as manhãs de terça e quinta-feira, trabalha no Clube de Unidade de Vizinhança do Cruzeiro. Ele estaciona o carro na praça do Cruzeiro Velho, em frente ao enorme gavião branco e azul, erguido no portal de entrada da Aruc. Há quatro anos, é responsável pela conservação do acervo fotográfico e jornalístico, parte do Departamento Cultural da escola.
A atividade não é recente. Começou despretensiosamente, ainda na adolescência, quando pedia fotos aos primeiros integrantes da Aruc para catalogar. Hoje, graças a ele, a memória viva da agremiação está preservada. A essência da escola está registrada em mais de 1.850 recortes de jornais sobre e 7.500 fotos, todos digitalizados.
Há anos, tanto material não cabia mais em caixas guardadas na residência do ex-presidente. Por isso, Helio defendeu a construção de um espaço à altura para receber as relíquias. Agora, o galpão construído ao lado da quadra da escola abriga os troféus dos 31 títulos carnavalescos, mais os esportivos, com várias fotos colorindo as paredes.
Hélio se considera um memorialista, coleciona imagens raras, como a da reunião de fundação da Aruc e dos primeiros desfiles. Tudo vem sendo criteriosamente separado, identificado, classificado e catalogado, à medida que chegam novos documentos, reportagens antigas e imagens. Para isso, fez curso no Arquivo Público do Distrito Federal. A riqueza do acervo conta histórias que surpreendem o público que visita a sede da agremiação.
As pesquisas são compartilhadas em grupos de memórias, em redes sociais. E se espalham para outros sites que contam as histórias do Cruzeiro, do esporte e da cultura no Distrito Federal. Algumas das redes sociais que ele gerencia têm mais de 11 mil seguidores. A filha mais velha, Heloísa Cristaldo, jornalista de formação, revisa os textos do pai, um a um, antes da postagem.
Futuro do samba
Desde 2021, Hélio ultrapassou os muros da Aruc e foi escolhido presidente da Liga de Escolas de Samba Tradicionais de Brasília (Liestra). O grupo reúne as quatro grandes escolas do DF: a Aruc, a Associação Recreativa e Cultural Acadêmicos da Asa Norte, a Capela Imperial de Taguatinga e o Grêmio Recreativo e Escola de Samba Império do Guará. A Liestra tem o objetivo de homenagear carnavalescos, fortalecer vínculos, inovar as escolas e criar oportunidades para o setor. O tema da liga é Resistir para Existir.
Mais recentemente, Helio aposta no projeto Escola de Carnaval, lançado em 2021 pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal para capacitar e profissionalizar a cadeia produtiva das escolas de samba e rearticular o setor.
Localizada no Eixo Cultural Ibero-americano (antigo Complexo Funarte Brasília), a escola tem focado na formação completa de carnavalescos. A habilitação ocorre desde o planejamento,a prestação de contas, gestão do carnaval, passando pela parte artística, com treinamentos para desenhos de fantasias e maquiagem de carnaval e chegando a aulas de dança aos passistas, mestre-sala e porta-bandeira e finalizando com a face musical – a qualificação de ritmistas, integrantes da bateria e percussão.
Patrimônio Cultural
Na década de 90, a supercampeã do Distrito Federal ganhou o status de Clube de Unidade de Vizinhança do Cruzeiro, com quadras de esporte, ginásio, piscinas e espaços para a comunidade.
Em 2009, a escola recordista de títulos no DF recebeu o mais relevante deles: o de Patrimônio Cultural Imaterial do Distrito Federal, por seu legado à cultura.
Em dezembro passado (2022), a Aruc recebeu a Escritura Pública de Direito Real de Uso do terreno, ocupado desde 1974. O documento faz parte da iniciativa que regulariza ocupações históricas de associações sem fins lucrativos em unidades da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap).
Cenário atual
Há oito anos, não há desfile oficial das escolas de samba em Brasília. Neste ano, no entanto, no domingo de carnaval (19), a Aruc reuniu mais de 1.500 pessoas nas ruas do Cruzeiro Velho, que acompanharam gratuitamente o trajeto dos passistas e do tradicional gavião azul e branco. No desfile de rua, a bateria da escola e os foliões cantaram os sambas-enredo que fizeram a história da Aruc.
O próximo grande compromisso da agremiação será em abril deste ano, no Eixo Cultural Ibero-americano , quando as escolas voltam a desfilar no 63º aniversário de Brasília. A Aruc deve contar com 100 integrantes na bateria para levantar o estandarte da escola.
Hélio conversou com a reportagem da Agência Brasil, em uma caminhada pelo galpão (que guarda os troféus da Aruc) e pela quadra da escola. Confira a entrevista:
Agência Brasil: Como começou sua relação com a Aruc?
Hélio Tremendani: Com uns 20 anos, eu era jogador. Em 1974, eu entro para criar o Departamento de Esporte.
Agência Brasil: Você esteve na inauguração da Aruc?
Hélio Tremendani: Eu lembro que estava lá [mostra a foto]. Nesta foto, eu rodeava todos. Estava tentando ouvir o que eles estavam falando. Queria entender o que eles estavam articulando.
Agência Brasil: Como começou a juntar os itens do acervo da Aruc?
Hélio Tremendani: Em 1974, fui atrás desses fundadores para me arrumar fotos. Eu copiava e devolvia. Então, fui construindo o acervo. A maioria nem quis a devolução. Muitas dessas fotos foram doadas por quem não enxergava tanto valor no material. Eles não sabiam o motivo pelo qual eu estava solicitando essas imagens. Nada passou em branco. E eu venho fazendo esse tipo de trabalho aqui. A minha função na Aruc, especificamente, é cuidar desse espaço.
Os troféus mais antigos ficavam na minha casa, porque não tinha espaço adequado aqui. Mas, foi aumentando muito e começou a faltar lugar. Quando o pessoal do Rio vem fazer shows em Brasília, fica impressionado com isso, porque nenhuma escola de samba do Rio conseguiu resgatar os primeiros troféus que eles conquistaram.
Agência Brasil: E a relação com a escola de Madureira (RJ), a Portela, que apadrinhou a Aruc em 1962?
Hélio Tremendani: A Portela apadrinha escolas em oito estados. Com a Aruc, a relação com a Portela tem crescido muito nos últimos anos. O precursor da relação com a Portela foi o diretor da Aruc Fernando de Carvalho, que desfilava na Portela. Ele conseguia mobilizar pessoas de Brasília, formando uma ala com quase 100 pessoas e fazia a construção com a Portela. Trouxemos para se apresentar na Aruc a Velha Guarda do Rio. Havia um intercâmbio. O ex-presidente da Portela, que saiu no ano passado, [Luis] Carlos Magalhães, dava muita atenção pra gente. Veio aqui várias vezes. E o diretor do Departamento Cultural da Portela, Rogério Rodrigues, igualmente.
Agência Brasil: Conte uma história curiosa.
Hélio Tremendani: Em 1974, a diretoria resolveu buscar os quatro primeiros troféus na chácara de um ex-presidente. No dia, cheguei para treinar futebol de salão e o presidente me chamou para ir. Chegando lá, esses troféus estavam em um chiqueiro. Éramos quatro e um perguntou para o outro quem iria pular. Eu pulei, entrei no chiqueiro e pensei: vou levar uma bronca da minha mãe quando chegar em casa. Hoje, os quatro primeiros troféus da Aruc estão expostos no galpão. São as relíquias de 1965, 1966, 1967 e 1969.
Agência Brasil: Na galeria de troféus, tem algum preferido?
Hélio Tremendani: O meu querido é o título do carnaval de 1982. O primeiro em que fui presidente [da Aruc]. Eu era visto como um cara legal, um bom jogador de basquete, de futebol. Não era do carnaval. Então, era um desafio para mim. A rotina da Aruc era ganhar. Tinha muita importância para a Aruc.
Agência Brasil: Cite um personagem do carnaval de Brasília.
Hélio Tremendani: Para mim, Nilton de Oliveira Sabino, presidente [da Aruc] de 1974 a 1980, é a maior personalidade do carnaval de Brasília. Primeiro, porque teve uma visão diferenciada. Pensou: vou assumir e respeitar a velha guarda, os fundadores, mas eu quero a jovem-guarda, quero montar o grupo de jovens. Foi quando eu entrei. Ele dizia: faz aí que assino embaixo.
Tem também o Brigadeiro (Manoel Frederico Soares, embaixador do samba de Brasília); Seu Anadir [salgueirense fundador da Acadêmicos], da Asa Norte; e Odacir, da Capela Imperial de Taguatinga.
Agência Brasil: Você conheceu muitas personalidades do samba. Conte algum bastidor para a Agência Brasil.
Hélio Tremendani: No [projeto] Temporadas Populares, eu queria trazer o Jamelão. Eu falei com Jorge Aragão e ele disse que era complicado. Depois de um tempo, eu consegui trazê-lo. No sábado do show, que seria à noite, houve uma coletiva de manhã. Eu pedi ao pessoal da imprensa que não usasse o termo puxador de samba com Jamelão, já que ele gostava de ser chamado de intérprete. Ele poderia dar uma resposta mal criada. Então, uma TV gostava de fazer as coletivas ao vivo. Juntaram-se ali uns oito jornalistas. Logo que começou, uma repórter perguntou como Jamelão se sentia sendo considerado o maior puxador de samba do Brasil. Um aperto, viu? Mas, Jamelão estava de astral legal e deu uma resposta educada: não sou puxador, sou intérprete. Em seguida, fui falar com a jornalista, pois eu tinha pedido para não fazer aquilo. Ela quase acaba com tudo.
Agência Brasil: Você teve crise com o carnaval?
Hélio Tremendani: Em determinado momento, eu não tinha tempo. Não tinha cobrança dos familiares, mas eu tenho minha família, tinha o esporte, o trabalho. Fui me afastando do esporte. Na Aruc, pensei em parar várias vezes, mas não conseguia. Por algum motivo, eu tinha que voltar e voltava. Tinha sábado que eu ficava até meia noite e no domingo, voltava de novo. Quatro anos atrás, eu resolvi arrumar uma sala dentro da Aruc e me dediquei à memória da associação.
Agência Brasil: Como manter o pessoal motivado?
Hélio Tremendani: Fazendo ensaios. Tem que ter uma boa bateria, um bom carro de som, que são os intérpretes, e uma boa organização, a cerveja não pode faltar para o pessoal que gosta. Chamar as passistas, o mestre-sala e a porta-bandeira.
Agência Brasil: Você se considera sambista, carnavalesco ou folião?
Hélio Tremendani: Eu gosto de samba, não toco instrumento, não fiz letra, não sou sambista autêntico. Nunca me aventurei. Eu sempre sobrevivi estes anos porque soube respeitar os meus limites. O carnaval tinha um carnavalesco. Eu dava os poderes para ele e acompanhava. Então, eu não interferiria no carnaval. Eu fazia articulação por fora, nos bastidores. Eu fazia uma parte [do trabalho] e a outra equipe fazia a outra.
Agência Brasil: E você preside uma nova liga, a das escolas tradicionais. Como é o trabalho?
Hélio Tremendani: A liga de que hoje sou presidente é a tradicional. Ela foi criada em 2021, porque a Aruc e a Acadêmicos da Asa Norte não concordavam com o número de escolas de samba que havia. Eram 21. De lá pra cá, diminuíram para 14. Mesmo assim, a gente considera muito. O ideal seria ter oito escolas. Quatro no Grupo Especial e quatro no grupo de Acesso, para fortalecer as escolas.
Agência Brasil: Qual a maior rival da Aruc?
Hélio Tremendani: A Acadêmicos da Asa Norte [de 1969. A segunda maior detentora de títulos, sete ao todo].
Agência Brasil: Há oito anos sem desfiles de escolas de samba de Brasília. Quais são os desafios para retomada?
Depois de oito anos, é meio complicado porque perdeu a sequência. Surgiram os blocos de rua. Tem público deles. Mas, são coisas diferentes. Então, o primeiro desafio é retornar. Em 2024, é outra realidade. Recomeçar. Vai ser carnaval do recomeço. Faltou um interesse político muito grande. Vai ser preciso um bom marketing para influenciar nas decisões dos governantes.
Agência Brasil: Como vê o futuro do carnaval de Brasília?
Hélio Tremendani: O futuro passa pelo respeito das autoridades de governo e dos políticos aos sambistas. Já existe uma política pública voltada para o carnaval. A partir do momento em que eles respeitarem essa lei, pode ter certeza de que o cenário do carnaval será outro, em quatro anos, em Brasília. Completamente diferente. Vocês vão ver.
Agência Brasil: Como atrair mais jovens para o carnaval?
Hélio Tremendani: Foi criado o projeto Escola de Carnaval para o futuro do carnaval brasiliense. Passa por aí a qualificação de pessoas para trabalhar – costureiras, aderecistas, percussão, para levar para as escolas. O foco deve ser aquele menino que tem 14 [anos] para que, com 16 [anos], ele já possa desfilar. Ou seja, criar um público para trabalhar na escola toda, crescer lá dentro.
Agência Brasil: Os desfiles de escolas de samba mudaram de lugar, durante a história de Brasília. Onde deveriam ser, em definitivo?
Hélio Tremendani: O auge dos carnavais foi entre 1970 e 1990. O carnaval saiu da Funarte [atual Eixo Cultural Ibero-americano], foi para Ceilândia [Ceilambódromo]. Voltou ao estacionamento do ginásio Nilson Nelson, onde permaneceu por mais dois anos. Não era ruim, mas tinha que ser mais central, mais perto da rodoviária, com uma pista que comporte os 450 componentes de cada escola.
Agência Brasil: E o projeto do Sambódromo de Brasília?
Hélio Tremendani: Hoje, há estados que têm um grande carnaval, como o Espírito Santo, que tem um sambódromo, Santa Catarina, Porto Alegre brevemente vai construir um sambódromo; Manaus tem, São Paulo, Rio. Vários estados têm espaço e nesse local abrigam outras manifestações culturais. Brasília tem o projeto de ter um sambódromo. A gente está lutando de novo para construir entre o Colégio Militar [de Brasília) e o [Estádio] Mané Garrincha, indo em direção ao autódromo. A partir dali, não seria só um espaço para as escolas, mas também para shows, carnaval de rua. Enfim, para todas as manifestações culturais.
Agência Brasil: O que simboliza a Escritura Pública de Direito Real de Uso do terreno da Aruc?
Hélio Tremendani: Resistência. Resistir para existir nessa área, para que ela não fosse cedida para especulação imobiliária, e mais recentemente para igreja. O que me movia, nos últimos anos, era não perder essa área. Uma dia a gente iria regularizar. E regularizamos no ano passado.
Tentaram mudar a destinação da área para construir o maior templo de Brasília nesse espaço. Outro empresário queria a mudança de destinação para construir um condomínio. A escritura traz segurança jurídica e permite a exploração comercial da área do clube, como a venda de ingressos para as feijoadas.
Agência Brasil: Qual o seu legado?
Hélio Tremendani: Eu voltei à Aruc há quatro anos para preservar a memória. As salas do acervo e dos troféus são santuários. Elas têm que ser preservadas. Se não tiver ninguém interessado, eu vou continuar, até quando eu estiver vivo. Foi uma missão que me deram. Como é que o garoto, que eu era, ia se preocupar em pegar foto para identificar, para guardar? Foi uma missão. Só pode ser. Eu sinto o peso dessa responsabilidade.
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