Cidades do interior do estado de São Paulo cortadas pelo Rio Tietê voltaram a registrar nesta semana a formação de uma espessa espuma branca sobre as águas do rio. Uma das cidades mais atingidas é Salto, onde a espuma chegou a tomar quase que a totalidade do curso d’água nas proximidades da cachoeira que dá nome à cidade.

De acordo com a diretora de Políticas Públicas do Instituto SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, a espuma é causada pelos fosfatos e fósforo presentes em produtos biodegradáveis domésticos como o sabão, detergente, saponácio, pasta de dente e shampoo, despejados em grande quantidade no esgoto da região metropolitana da cidade de São Paulo.

O Rio Tietê, que corre no sentido do interior, carrega esses produtos em sua água. Nas cidades com corredeiras ou cachoeiras ocorre a formação de espuma espessa em razão da agitação e consequente oxigenação da água. A concentração dos produtos é maior na atual época do ano, quando o rio está com menor volume de água, devido a pouca quantidade de chuvas.

“Você imagina 22 milhões de pessoas da região metropolitana de São Paulo usando esses produtos. O sistema de tratamento de esgoto não trata isso. Trata matéria orgânica, fezes e urina. Então esses componentes biodegradáveis, que são ricos em fosfato, eles se concentram na água”, destaca.

Segundo Ribeiro, a espuma que sai da água carrega com ela demais poluentes do rio e pode ser perigosa para os moradores das suas proximidades. “As pessoas podem respirar os poluentes na forma de espuma e então se contaminar com bactérias e outros poluentes que estão na água e que vem com essas espumas. Por isso que se fala já há algum tempo que essas espumas são tóxicas”.

A diretora do SOS Mata Atlântica ressalta que a situação deve ser combatida na origem, ou seja, no controle da quantidade de fósforo e fosfatos permitidos nos produtos. “O que outros países fizeram que a gente não faz? Combater o problema na origem, diminuindo, com normas e resoluções, a concentração de fósforo e fosfato dos produtos biodegradáveis”. “Nossa legislação já fez essa redução de algumas décadas para cá, porém, com as mudanças climáticas, a gente precisa rever essa resolução de novo”, acrescenta.

A Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo disse em nota que trabalha em conjunto com os municípios paulistas para melhorar a condição do rio. “A previsão é que, até 2026, sejam investidos R$ 5,6 bilhões na ampliação da rede de saneamento básico, desassoreamento, gestão de pôlderes [muros de contenção, diques], melhorias no monitoramento da qualidade da água, entre outras medidas que irão ampliar a qualidade do rio na região de Salto e ao longo de toda a sua extensão”.

A pasta disse ainda que os episódios de formação de espuma ocorrem por conta de parcelas de esgotos urbanos ainda não adequadamente tratados, oriundos de municípios localizados antes da cidade de Salto, na bacia do Alto Tietê.

A prefeitura de Salto informou que monitora a situação do rio e orienta a população a evitar se aproximar do rio, principalmente quando estiver com espuma. “A poluição afeta, além do meio ambiente, notadamente a fauna silvestre que depende do rio, o turismo e a economia da cidade. Ressalte-se ainda, que essa é uma poluição para a qual Salto não dá causa, uma vez que Salto trata quase 100% do esgoto, mas, assim como todas as cidades do Médio Tietê, recebe o rio em péssimas condições”.

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