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Representantes de coletivos negros e de outros movimentos sociais organizaram nesta quinta-feira  (25) atos no centro do Rio de Janeiro, e em frente à Embaixada da Espanha, em Brasília, contra o racismo e em solidariedade ao jogador Vini Jr. pelos ataques sofridos em partida do campeonato espanhol no último domingo.

No Rio, a concentração foi em frente à Igreja da Candelária, de onde os manifestantes caminharam até a Praça Floriano, na Cinelândia. Entre os grupos em defesa da igualdade racial estavam presentes: IPCN, Educafro, Comdedine, Unegro, Movimento Negro Unificado (MNU), Reafro/RJ, Quilombo Agbara Dudu, Rede de Jornalistas Pretos Pela Diversidade na Comunicação, a Comissão de Jornalista pela Igualdade Racial (Cojira/RJ) e a Associação Advocacia Preta Carioca – Umoja. Também participaram o Movimento Popular de Favelas (MPF) e o Movimento Torcedores pela Democracia. 

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Para Valda Neves, do Movimento Negro Unificado (MNU), a postura de Vini Jr. de não aceitar em silêncio os ataques no estádio e de confrontar os agressores foi importante para reverberar as lutas históricas da população negra. Ela afirma que o caso do jogador foi representativo da força que o racismo ainda tem na Europa e no Brasil.

“O que aconteceu com o Vini Jr. acontece diariamente com o povo negro. Desde os tempos da escravidão somos tratados como seres inferiores, subalternos, sem direitos. Não importa a classe social, não importa se você é um jogador qualificado, um dos melhores em atuação no mundo, um negro bem-sucedido. A cor da pele ainda é um determinante nessa sociedade e expressa uma estrutura racista”, diz Valda.

Suzete Paiva, que é da coordenação da União de Negros pela Igualdade (Unegro), disse que as manifestações de solidariedade ao jogador brasileiro ajudam a engajar mais pessoas na luta antirracista.

“Tentamos aqui fomentar a consciência e o despertar de luta. Não podemos perder a capacidade de nos indignar e de brigar. Mesmo que o façamos até o último ar que respiramos. Nós sabemos que nessa estrutura social em que a base é de maioria negra, pobre, marginalizada, sem moradia e sem comida, não existe uma democracia de verdade”.

Carta ao consulado 

Mais cedo, os organizadores da manifestação estiveram no Consulado da Espanha em Botafogo, na Zona Sul do Rio. Eles entregaram uma carta com algumas exigências: elaboração de ações antirracistas no país europeu, responsabilização criminal dos agressores de Vini Jr., explicações públicas da La Liga (liga espanhola de futebol profissional) sobre as medidas adotadas e apuração de casos de racismo contra outros jogadores. O consulado se comprometeu a encaminhar a documentação para a embaixada e a realizar um encontro com os manifestantes para avaliar os progressos.

A ação no consulado também teve um representante do Ministério do Esporte, o diretor da Secretaria Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor, Ronaldo Tavares. Ele disse que o governo federal, por meio de um trabalho interministerial, está preparando um programa de conscientização no esporte e de combate ao racismo.

“Queremos com essa política interferir na questão dos clubes e associações, fazer um debate transparente sobre o que eles estão fazendo para apoiar os atletas que sofrem racismo dentro das instituições. O nosso programa, que conta com o Ministério da Justiça e o Ministério do Esporte, vai produzir um documento, uma portaria, ainda em estudo, voltado para o esporte sem racismo. Um trabalho concreto com debate desde a base do futebol, no infantil, até o esporte de alto rendimento. E isso tem que ser discutido nos clubes e nas federações”.

Brasília

Na capital brasileira, manifestantes se reuniram na tarde desta quinta-feira em frente à Embaixada da Espanha no ato Cartão Vermelho para o Racismo, que pede atitudes concretas para combater o racismo no futebol. “Foi escolhido a dedo o dia de hoje porque é um dia muito importante para nós do movimento negro. É o Dia de África, no qual a gente reverencia nossa ancestralidade e conclama a todos, a todas e todes para lutar conosco”, disse Mariana Andrade, que faz parta da Frente de Mulheres Negras do DF; da Coalizão Negra por Direitos; e da Uneafro Brasil

Brasília - 25/05/2023 -  Ato em solidariedade ao jogador Vini Jr. em frente a embaixada da Espanha contra o racismo (Cartão Vermelho para o Racismo). Foto: Rafa Neddermeyer/ Agência Brasil
Brasília - 25/05/2023 -  Ato em solidariedade ao jogador Vini Jr. em frente a embaixada da Espanha contra o racismo (Cartão Vermelho para o Racismo). Foto: Rafa Neddermeyer/ Agência Brasil

Ato em solidariedade ao jogador Vini Jr. em frente a Embaixada da Espanha  – Rafa Neddermeyer/ Agência Brasil

A ativista do movimento negro destacou que 54 entidades de diversos nichos assinaram o manifesto de repúdio à violência sofrida pelo esportista. “Houve uma pluralidade de organizações participando conosco”. E concluiu, “saímos do ato esperando que as medidas enérgicas, que as respostas que não dependem de nós sejam dadas em breve”, concluiu Mariana Andrade.

Brasília - 25/05/2023 -  Ato em solidariedade ao jogador Vini Jr. em frente a embaixada da Espanha contra o racismo (Cartão Vermelho para o Racismo). Foto: Rafa Neddermeyer/ Agência Brasil
Brasília - 25/05/2023 -  Ato em solidariedade ao jogador Vini Jr. em frente a embaixada da Espanha contra o racismo (Cartão Vermelho para o Racismo). Foto: Rafa Neddermeyer/ Agência Brasil

Ato Cartão Vermelho para o Racismo ocorreu em frente à Embaixada da Espanha, em Brasília. Rafa Neddermeyer/ Agência Brasil

Histórico

O brasileiro Vini Jr., de 22 anos, vem sendo alvo de ataques racistas no Campeonato Espanhol, organizado pela LaLiga, uma entidade privada. No último domingo o esportista foi mais uma vez insultado, antes mesmo de pisar em campo. Vídeos publicados nas redes sociais mostram centenas de torcedores do Valencia, que jogaria contra o Real Madrid, cantando “Vinícius é um macaco”, no momento em que o ônibus do Real chegava ao estádio Mestalla.

Durante o jogo, insultos racistas e gritos de “macaco” foram proferidos das arquibancadas, após um lance aos 29 minutos do segundo tempo. Após a partida, o técnico do Real Madrid, o italiano Carlo Ancelotti, se mostrou revoltado e incrédulo com o acontecimento.

O atleta desabafou nas redes sociais e lamentou que os repetidos ataques discriminatórios estão fazendo com que a Espanha seja conhecida como “um país racista”. “Não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira. O racismo é o normal na La Liga. A competição acha normal, a Federação também e os adversários incentivam. Lamento muito”.

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